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Canais do YouTube especializados em resenhas de livros formam nova geração de leitores.

Os “booktubers”, pessoas que falam de livros e temas literários no YouTube, são um fenômeno que vem mudando a forma como enxergamos o mercado editorial. Esses canais ajudam leitores a digerir os clássicos, estudar para os vestibulares e aprender métodos de leitura e escrita. Alguns booktubers têm se destacado e, claro, estão chamando atenção de editoras e livrarias, que começaram a investir em parcerias. Afinal, os seguidores são possíveis consumidores e alguns canais já ultrapassam o número de 200 mil assinantes, caso do Tiny Little Things, da professora Tatiana Feltrin, o PAM, da escritora Pâmela Gonçalves e o Perdido Nos livros de Eduardo Cilto.

Com cerca de três anos de existência, o canal Ler Antes de Morrer, da jornalista Isabella Lubrano, que este ano atingiu a marca de 100 mil inscritos, se destaca por pautar seu conteúdo nos grandes clássicos da literatura. Em 2014, Isabella, então produtora na TV Gazeta, pediu demissão e, com o crescimento do canal, pôde fazer dele sua profissão. Com um público predominantemente adulto, a booktuber revela ao Aliás que seu diferencial é “investir em resenhas roteirizadas, com apuração de dados e muita contextualização histórica”.

Otimista, Isabella afirma que é “inegável que os booktubers desenvolveram uma linguagem mais atraente ao público leitor”, mas que não pensa que isso esteja enfraquecendo o jornalismo tradicional e sim “colaborando para formar novas gerações de leitores”, e que cada vez mais “jornais, revistas e editoras vão descobrir novas maneiras de aproveitar os booktubers para fortalecer o mercado consumidor de livros”.

Jornais, revistas e editoras vão descobrir novas maneiras de aproveitar os booktubers para fortalecer o mercado consumidor de livros

Isabella Lubrano

Outro canal focado nos clássicos é o Literature-se, da estudante Mell Ferraz, que completa 7 anos de existência. Mell, que por conta do canal ingressou na faculdade de literatura para trabalhar na área, conta que “jamais imaginaria o alcance que o Literature-se tem hoje”. Além dos clássicos, a booktuber dá preferência a títulos “menos conhecidos, e também a autores iniciantes”. Um destaque do Literature-se, digno de nota, é uma série especial em que a booktuber analisa, em 16 episódios, o tão “temido” Ulisses, de James Joyce, de forma acessível e prazerosa.

Já Pâmela Gonçalves, do PAM, viu ao longo do tempo seu público mudar de adolescentes para universitários e que hoje “além dos comentários sobre livros, começou a fazer vídeos com dicas de escrita”. Autora de Boa Noite (Editora Galera Record, 240 páginas, R$ 32,90), Pâmela lança neste semestre seu segundo livro solo. Ela também participa, juntamente com outros booktubers, da coletânea O Amor nos Tempos de #Likes, que reúne três adaptações contemporâneas dos clássicos Orgulho e PreconceitoDom Casmurro Romeu e Julieta, também pela Galera Record.

Além dos booktubers, redes sociais especializadas em livros popularizam-se, modificando o comportamento do público leitor e, consequentemente, do mercado livreiro. Este é o caso da Goodreads, uma rede social específica para leitores, em que o usuário pode criar e compartilhar um catálogo com os livros que já leu, aqueles que pretende ler e os que estão sendo lidos. Além disso, todos os membros da plataforma podem resenhar e avaliar livros. Este recurso tem um peso enorme, pois, à sua maneira, determina a qualidade e popularidade de um título, ou seja, pauta sua possível aquisição entre os membros da rede.

O sucesso da Goodreads, lançada em 2007 por Otis Chandler e sua esposa Elisabeth Khuri Chandler, foi tanto, que, em 2013, foi adquirida pela gigante Amazon. A aquisição gerou certa polêmica, pois a Amazon estaria, supostamente, monopolizando o mercado de vendas por meio das informações obtidas no Goodreads. No entanto, essa discussão não ganhou unanimidade, já que boa parte dos usuários tende a ver a aquisição com bons olhos, ou, como declarou ao New York Times o escritor fenômeno Hugh Howey, autor da série bestseller Silo, “trata-se da união entre o melhor lugar para a discussão de livros com o melhor lugar para comprá-los”.

Howey, que começou sua carreira de forma independente, atribui seu sucesso à liberdade das ferramentas de autopublicação e, sobretudo, às milhares de avaliações positivas de seus leitores Amazon e a alta cotação conquistada na Goodreads. Sua série Silo, que está sendo publicada no país pela editora Intrínseca, será adaptada para as telas de cinema, e o mestre do terror Stephen King já se declarou fã da obra.

No Brasil, uma rede social similar chamada Skoob (Curiosamente, “books” ao contrário), fundada em 2009 por Lindenberg Moreira e Viviane Lordello, já é a maior rede do País neste segmento e uma das maiores do mundo com mais de 4,5 milhões de usuários. Viviane Lordello, falando ao Aliás, acredita que “uma rede social de livros incentiva o hábito de leitura e ajuda a formar mais leitores, o que é essencial para o futuro do país, auxiliando decisivamente na melhoria do nível cultural da população”.

Uma rede social de livros incentiva o hábito de leitura e ajuda a formar mais leitores, o que é essencial para o futuro do país, auxiliando decisivamente na melhoria do nível cultural da população

Viviane Lordello

De olho no futuro, as editoras e livrarias brasileiras estão se associando à Skoob e a receptividade de suas ações promocionais cresce exponencialmente, assim como o número de skoobers, como são chamados os membros da rede. Os skoobers podem criar comunidades, fazer trocas de livros e participar do recém-lançado Clube Skoob, um clube do livro em que os assinantes recebem todo mês uma caixa temática, a “Caixa do Skoob”, com itens surpresas, que vão de livros até produtos de edição limitada. Viviane revela que “lançado em maio, a primeira edição, limitada a cem caixas, se esgotou em menos de duas horas”.

Os booktubers e as redes sociais especializadas em livros são exemplos de uma revolução tecnológica que está modificando as regras do mercado editorial, que, para não cair no obsoleto, já começou a assimilar essa nova realidade notadamente irreversível.

Artigo originalmente publicado por Felipe Cherubin,
no jornal O Estado de S.Paulo em 22 Julho 2017

Foto @RoselyFerraz

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