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Biografias com aprovação prévia de conteúdo e pagamento de royalties aos biografados são defendidas pelo Grupo Pocure Saber

Já que parece óbvio que as duas ideias centrais defendidas pelo grupo Procure Saber são absurdas (biografias com aprovação prévia de conteúdo e pagamento de royalties aos biografados), resta-nos tentar extrair algum significado dessa batalha bizantina que tomou conta do país.

As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira

Liev Tolstói

A famosa frase de Tolstói (que já foi pintada até em para-choques de caminhões) – “As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira” –, nos indica o quanto debates tristes podem ser produtivos em termos de inteligibilidade; seja a respeito de uma família, de um indivíduo ou de um país.

Dito isto, o que podemos então aproveitar desse debate fora de época? (Fora de época, mas não fora de lugar…). O crítico Roberto Schwarz, em seus estudos sobre o século XIX brasileiro, cunhou a expressão Ideias fora do lugar. O debate rendeu e rende até hoje. Mas simplificando a questão, Schwarz demonstrou como as principais correntes do pensamento mundial eram aqui usadas como fachada, vestidas e despidas conforme a moda. Por baixo de ideias e ideais modernos, o que existia de fato era o pensamento conservador e autoritário. Ele exemplifica o caso mostrando como os nossos liberais do XIX eram defensores ardorosos da manutenção da escravidão. Reinava a desfaçatez e a volubilidade.

Bem, de lá para cá avançamos muito. Mas nem tanto. A lei das biografias mostra que o desejo de pertencer ao seleto grupo de países modernos é só fachada. Arranhando um pouco o verniz progressista encontramos o mesmo obscurantismo de sempre. E o que é pior: a ideologia do atraso entranhada na Cultura Brasileira (ao menos nessa com C e B em caixa alta).

Em seu último livro (Martinha versus Lucrécia. Companhia das Letras), Schwarz fez a crítica ideológica do livro Verdade tropical (Companhia das Letras), de Caetano Veloso. O texto gerou polêmica entre os dois nas páginas da Folha de S.Paulo. Schwarz chegou a falar sobre certa desfaçatez camaleônica de Caetano. Acertou em cheio. Mais uma vez.

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