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Os leitores estão se habituando aos livros digitais e, ao contrário do que aconteceu em outras áreas, não foi o fim dos livros impressos

Desde pequena, os livros foram minhas melhores companhias. Lembro de levar para as férias sempre alguma novidade que encontrava nas livrarias, de degustar na praia, no campo, em casa, ou no parque diversas histórias que não me deixavam saciadas e sim, com vontade de ler mais, de ser uma devoradora de livros. Lia de tudo, desde gibi da Mônica até livros do Saramago e do Milan Kundera. Este último, em especial, me marcou profundamente com a sua Insustentável leveza do ser. Me fez ser apaixonada por Praga sem nunca ter ido conhecê-la. Tinha a certeza de que queria trabalhar com aquele objeto e ter prazer pelo que fazia. Jornalismo era meu futuro incerto, mas os livros eram a minha certeza de que seria feliz se pudesse trabalhar com eles. Tive a sorte grande de, logo cedo, trabalhar numa das maiores editoras – a Companhia das Letras, que me ensinou muito e em que permaneci, para meu próprio espanto, longos e bons dez anos. Trabalhei divulgando para ver mais gente lendo e faço isso até hoje, na esperança de que “o ler” salva, te impulsiona para frente, independente da área em que você trabalhe.

Há pouco mais de um ano e meio comecei a trabalhar na e-galáxia – uma empresa de livros digitais. Minha primeira experiência com e-books tinha sido na Companhia das Letras quando todos estavam comprando kindles, e em lote ficava mais barato. Resolvi comprar para saber como funcionava. Não migrei totalmente e continuei amando as livrarias e o tato dos livros, me apaixonando pelas edições de clássicos caprichadas com belos projetos gráficos, traduções e com papéis que adorava cheirar.

Confesso que embarcar profissionalmente no digital foi um passo ousado. No começo foi esquisito, não sabia que meu celular, por exemplo, tinha um aplicativo exclusivo para isso (vergonha diante da equipe). Mas hoje tenho uma certeza: e-books estão caminhando paralelamente com os livros impressos e dificilmente as estantes nas casas das pessoas vão ter lacunas por causa dos livros digitais.

A Flip – Festa Literária de Paraty também ousou convidando dois autores de peso com livros lançados pela e-galáxia para abrilhantarem a festa. A primeira, Graciela Mochkofsky, com uma bela reportagem em seu livro Estação terminal, e a segunda, a ensaísta argentina Beatriz Sarlo com Viagens. Foi uma alegria ver este avanço acontecer e poder divulgar e perceber as pessoas curiosas para ler aqueles livros em seus tablets e celulares.

Particularmente, acho também interessante ver meus sobrinhos, que são vidrados em jogos e filmes neste ambiente digital, passando também a ler ali. Na hora de dormir, todos ainda pedem uma história contada e um livro para levar para cama. É curioso, mas ao mesmo tempo extremamente gratificante, ver uma geração que já nasce com todos os aparatos digitais, também entrar no mundo da leitura por aí.

Nas primeiras conversas sobre o tema, me convenci que esse novo formato seria muito útil para estudantes universitários que poderiam ter todas as fontes de seus estudos em apenas um aparelho, e não terem que ficar carregando milhões de livros para serem consultados. Mas aos poucos e definitivamente com o meu trabalho na e-galáxia, pude perceber que sim, é um novo e grande salto podermos ter nossos livros dentro de uma pequena bolsa.

Os desafios desse negócio propriamente dito ainda são grandes. São inúmeras reuniões e, quando apresentamos uma ideia, recebemos como resposta: puxa, e se imprimíssemos a cada ano uma edição da Peixe-elétrico, por exemplo? (Revista digital que está em sua segunda edição pela casa editorial). O desejo de trazer para o papel ainda permanece forte na cabeça das pessoas e acho normal, um desafio, na verdade. Mas devagar e com vontade, dá para mostrar que é uma ilusão achar que as livrarias com livros de papel vão deixar de existir, apenas vão caminhar ao lado dos livros digitais, que sim, podem ter ilustrações, projetos gráficos elaborados, marcadores de textos, animações e muitos outros recursos que, pouco a pouco, vamos entendendo do que se trata, e quão gostoso se torna descobrir que a tecnologia também ajuda, e como, a proliferação da leitura.

Repito, estou há pouco mais de um ano nesse mundo, mas cada vez mais me encanto com o que vou descobrindo. E não há o que temer! Minhas estantes continuam cheias de livros físicos, assim como o meu criado-mudo. Mas ao lado, como grandes companheiros, estão meu celular e meu tablet que, em vez de servirem apenas para acessar as redes sociais, ver filmes e ouvir músicas, também me proporcionam o que sempre amei e nunca vou deixar de amar: os livros.

Afinal, também é uma grande bobagem acharmos que o cinema irá acabar por causa do Netflix. E bem-vindo ao velho mundo novo.

Renata Megale foi assessora de comunicação da e-galáxia, do ano 2014 ao 2016.

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