Poesia

Estados úmidos da matéria

R$40,00

Barthes diz que não foram os pintores que inventaram a fotografia, mas os químicos. Eu diria que, antes dos químicos e dos pintores e daquele velho ancestral que encheu as paredes de uma caverna de bisões avermelhados, animados pela luz e pela sombra, foram os poetas, esses seres de danação, essas crianças terríveis, que inventaram essa presença, para além da metáfora, da coisa, essa presença viva que certifica um movimento em sua própria ação de existir, que mais que o congela, atesta-o, que mais que o atesta, nomeia-o como real.

Flores de plástico: Edição comemorativa de 40 anos

R$0,00

Flores de Plástico é um volume de 52 poemas publicado em 1983 no modo precário da moribunda geração mimeógrafo. Para comemorar os quarenta anos de sua presença nos funerais da poesia marginal, aparece agora no formato dos tempos de 2023.

geografia perfeita para insetos

R$9,90

Segundo Cecilia Camargo, que prefaciou Geografias para Insetos, “ler este livro sem interromper a leitura nos faz sentir como se fôssemos as patas dos insetos a explorar caminhos conhecidos, mas nunca devidamente explorados.

É como olhar algo velho com olhos novos. Redescobrir. Cada poema nos leva a enxergar através dos olhos do poeta, por casas, jardins e espaços, um mundo real que se confunde com o mundo onírico. É como se ao refletirmos o poema, pudéssemos ver auras, fantasmas e magia onde antes havia apenas “palavras da pedra… em um cristal de basalto”.

A presença da casa, do quintal, da rua de suas memórias, coloca em foco momentos microscópicos ou tão rotineiros que sob outros olhos passariam despercebidos, mas que são revestidos de extrema beleza como: “um cão coleta seu latido/em uma lua descalça/que atravessa a rua molhada/diante de minha casa”.

Definitivamente, Edson Bueno de Camargo leva a sério o conselho de Leon Tolstói: “canta tua aldeia que cantarás o mundo” e ainda transcende, pois ao cantar sua geografia perfeita para insetos, canta também as estrelas.

Haicais dos sentidos

R$9,90

Convidada por Marisa Sevilha Rodrigues, curadora do selo Prato de Cerejas, para escrever este livro de haicais, Joana Woo mergulhou nas suas raízes e buscou no seu DNA a essência da construção dessa forma de poetar feito de síntese, silêncio e estalidos na mente e coração.

Os haicais foram criados levando em conta os critérios clássicos de adaptação ao ocidente. O livro tem sete editorias com o total de mais de 100 haicais. As cinco primeiras são uma jornada pelos nossos cinco sentidos: Visão, Audição, Tato, Paladar e Olfato. A sexta é uma aventura no nosso maior e misterioso sentido e a última editoria, denominada de Sem sentido, busca a beleza de sentir a poesia sem se preocupar com o significado ou a sua compreensão.

Joana Woo, em seu Haicai dos Sentidos propõe ao leitor uma viagem de cores, texturas, cheiros, sons e emoções. Para ela, “viver intensamente nossos sentidos é o maior sentido da vida”.

Histórias da guerra

R$14,90

“Não é comum em poesia a publicação de livros que realmente interessam, como é o caso aqui. Mas só para os que estão preparados para pôr em questão suas grandes e pequenas certezas mais preservadas. O trabalho de Charles Bernstein é desses capazes de efetivamente desestabilizar variados campos de práticas e criações, formas arraigadas de pensamento, ideias comuns naturalizadas, imagens corriqueiras, sentidos admitidos, sintaxes previsíveis, aberturas e desfechos notórios.”

É assim que o também poeta Ronald Polito abre de forma contundente o prefácio inédito da seleção de poemas, ensaios e entrevistas de “Histórias da guerra”, do poeta norte-americano Charles Bernstein.

Bernstein é voz central na poesia mundial contemporânea. Seus poemas e ensaios foram traduzidos em mais de cem antologias e periódicos no México, Argentina, Cuba, Brasil, Noruega, Suécia, Finlândia, França, Alemanha, Áustria, Sérvia, Montenegro, Grécia, Espanha, Portugal, Rússia, China, Coréia e Japão. Nos últimos trinta anos, foram mais de duzentas as leituras e palestras, apresentadas no mundo todo, em países como França, Finlândia, Dinamarca, Itália, Portugal, República Tcheca, Alemanha, Áustria, Sérvia, Espanha, Canadá, Cuba, Brasil, Inglaterra, Nova Zelândia e Estados Unidos. Com Bruce Andrews, editou a já mítica revista L=A=N=G=U=A=G=E. Hoje, Bernstein detém a cadeira Regan de professor de inglês da University of Pennsylvania.

Esse livro incomum ainda traz a voz de outro importante poeta, Régis Bonvicino, organizador e tradutor do livro, e principal responsável pela divulgação da obra de Bernstein no Brasil.

Iara e outros

R$14,90

“Era em Botafogo. Numa rua sombria de casarões velhos e figueiras. Mais uma casa reformada num gênero que se pretendia original, buscando seduzir o público pela ino­vação. Nem restaurante nem boate, um palco de teatro com mesas na plateia e serviço de bar.

O tamanho era o de um cinema médio e nas paredes laterais se espalhavam, em exposição, fotografias emolduradas em espelho. Cada noite uma atração diferente a se repetir nas semanas seguintes do mês: a amiga sempre às quartas, dizia o programa que deram para Iara na entrada.”

Assim começa Iara e outros, de Marina Slade.

L’Ascension, O sia, O Cristal do Milagre chinês

R$5,90

No desconcertante L´Ascension, O Sia, O Cristal Do Milagre Chinês, o quarto livro do poeta, compositor e dramaturgo Luciano Garcez (ABC, 1972), temos uma espécie de sátira em forma de diálogo platônico, misturada à poesia, à pop-art-naïf involuntária que a internet gera (os memes, os Selfies) e à música (absolutamente indefinida em seu estilo). A obra carrega em si, nas suas 47 páginas, talvez a suma irrequieta da Poética de Garcez, que está em, obstinadamente, transgredir gêneros artísticos, estilos conformados e as linguagens, elas e nelas mesmas – trabalhar “a mão livre” (sem crase), borrando qualquer contorno diccional possível. Para Armando Lobo, “Garcez junta os estilhaços da pós-modernidade, dando um sentido profundo a eles, porque não visível – apesar de claramente perceptível”. Seu ofício de “desmanche” e “recomposição” se dá, assim, não apenas no âmbito formal – deste ou daquele experimentalismo mais em voga – mas dentro dos próprios conceitos que a obra comenta, isto é, do conteúdo dela em si. No dizer de Marcelo Tápia sobre o modus literandi do poeta-músico, haveria nele um procurado “(…) caos que almeja transformar-se por si só em esfera musical, mas insiste em permanecer no plano da palavra entreouvida, do pensamento entrecortado, da paisagem fragmentada, do tempo descontínuo – este procura transcorrer no fluxo do discurso, que, no entanto, quebra-se na condição ilógica de sua natureza transitória, interrupta, afeita à relativização dos espaços (…)”. Espaços sem pesos só para, depois, na des-obra em questão, vermos um tanto surpresos a aparição derrisória e improvável de Olavo de Carvalho, se despregando de um Gramsci muito venerável, ao som do “Canto da Sereia Espartana Sobre a Pedra de Âmbar”, que terminará num coral, com partitura inclusa, a quatro vozes, onde Hölderlin é adulterado sem remorsos como mercadoria paraguaia – de onde só poderemos concluir assim, e juntos com Mariana L. Löhnhoff, no prefácio do livro, que: “(…) Não adivinhamos sequer qual o objetivo do autor ao escrever – e descrever – suas personagens e sua obra. Apenas ouvimos ecos reduzidos da realidade nesta outra “sobrevida” literária, numa suposta transposição carnavalizada, e implacável, dela, a realidade.”

Linhas

R$30,00

Linhas é o livro de estreia da poeta Nicole Cristofalo.

Na primeira parte, são impressas linhas assimétricas, dissonantes, que buscam, por meios de temas diversos, ressignificar desde aspectos triviais do cotidiano até as inquietações provocadas pela infância e pela morte, preenchendo a sensação de “esvaziamento” de sentido agambeniana (a ideia de existir sem viver), tornando-os experiências.

Na segunda parte, as linhas se tornam simétricas, consonantes, e encontram na…

Manuscritos de água

R$9,90

Neste belo Manuscritos de Água, Rosa nos apresenta, já na dedicatória, os amores que a conduzem. E nas primeiras palavras já nos mostra a intensidade com que os vive.

A partir dali, os caminhos são tortuosos, conduzindo a muitas praias, beiras de rios, cacimbas e sangas. Nestas paisagens nos sentamos ao lado da querida poeta, que nos mostra as observações que faz: águas doces e salgadas, sargaços, aves, nuvens, plantas.

E partindo dessas observações, nos mostra seus (re)significados: amor obstinado e fiel; esperança infinita; coragem teimosa; indignação justa e muitos outros.

Seus textos são curtos, mas não são rasos. Nem frasezinhas-de-efeito bonitinhas pra ganhar atenção em redes sociais, nem “textões” empolados e academicistas destinados a demonstrar erudições nem sempre verdadeiras. Em uma ou duas frases reside um mundo inteiro de emoções, todas elas intensamente verdadeiras.

É delas que resulta este livro denso e sincero, fortemente emocionante.

Mar nos pés

R$9,90

Nesse mar de aparente excessos, bom é sentir que a alma ainda pode se embriagar com a mistura de quintais, galinhas, caboclos, danças e devoção ao amor, onde a magia acontece e ali podemos “nos esvaziar de tudo com o auxílio do vento solto”, apenas.

É de coisas simples, comuns, em palavras ritmadas, que Rafael cria seu universo cheio de pistas para epifanias presentes no cotidiano – O vento sempre aparece no quintal, dando vida às roupas no varal.

Metáforas do tempo: a grande noite

R$9,90

Talvez a vida seja curta ou longa demais; e sua linearidade fria comece a se confundir, daí onde era metal e pedra, surge, raízes, ramos e bulbos. Das certezas ao vácuo. Assim se reconfigura aquilo que chamamos de realidade e se reconfigura, formando uma nova teia de sentido. De repente, o que tanto prezávamos se esvai e o sentimento de perda se conforta ao nosso lado.

Qual a novidade?

A obra de Pedro da Mota Pereira, Metáforas do tempo: a grande noite, está prenhe dessas questões, porém não pretende respondê-las. Por vezes as amplificam até torná-las insuportáveis. Cumpre assim um dos destinos da arte: ir contra a reificação humana.

Num de seus poemas, o autor nos oferece um olhar privilegiado sobre trabalhadores de um porto qualquer, congela o tempo, e vemos gotas d’agua evaporando (em suas palavras: …se esvaindo). Imediatamente retornamos desta perspectiva de olhar onisciente e caímos… (como o tombo do anjo divino?), sobre nossa própria vida. O eu lírico, assim nos convida a nos dar outra chance.

Dotado de humanismo marcante, Metáforas do tempo: a grande noite, é orgânico – ainda que digital – e tem grandes requisitos para se tornar livro de cabeceira de seus leitores.

Não

R$9,90

Bem-vindo ao big bang verbal de Jaime Brasil, leitor. Com seu título peremptório e sua recusa programática do lirismo institucional — em que certa poesia ainda teima em se escrever “flores” —, o poeta de “Não” recolhe os estilhaços do mundo, ciente de que “estão com defeito todos os fechos da realidade”, e descrente de alumbramentos. Irmanando-se à antipoesia de Nicanor Parra, Brasil procede também pelo método eliotino da montagem, disparando imagens e espraiando seu delírio progressivo numa profusão de poemas sem título, brindando “ao mais ou menos que temos/antes que eu me dê por satisfeito”. Porém, o poeta cético não corre esse risco: “nunca tive uma fase de oásis”, afirma, “pois tudo na areia é caminho”; no entanto, prefere, “de grão em grão, fabricar meu próprio deserto”. Esse verso axiomático bem poderia definir a ars poetica de JBF, cuja práxis se compraz também na orquestração de células sonoras ou de palavras contíguas, bebendo de um “oceano abissal de absinto”, num “absoluto luto diário, que soluça sem solução”. Girando sem cessar na constelação de signos, “mordendo a carne de utopias recém-abatidas”, o poeta percorre o “caos cotidiano que parece natural e civilizado”, e nos adverte que “é do curtume que saem os meus mais caros perfumes”. A cada passo, relances da realidade vão rompendo o véu de Maya, e o poema dá conta de que “a fé move montanhas de dinheiro / e exércitos marcham sobre cadáveres de crianças”. Nessa litania laica, em que a poesia passa por ”sussurro rouco reverberando no oco de um coco / mas é o que tenho a oferecer”. o poeta recusa ainda qualquer conciliação: “pensar se depois do fim vai ser legal? / quero não, querubim”. No entanto, ao fim e ao cabo, “cada um se mostra conforme se esconde”, e ela, poesia, aflora sempre: “ara o ar, esculpe a água, fluidifica a terra”; assim como “uma nuvem grávida dá à luz um arco-íris”. Sim, a criação é contínua no universo negativista de Jaime Brasil.

Texto de Luiz Roberto Guedes.

O Livro de Isólithus

R$9,90

Patrícia Claudine Hoffmann escama. Desfolha em Isólithus, personagem-ego, persona-poesia. Patrícia é suas visões, refletidas em Isólithus. O anjo que guarda a palavra azul. Adestradora de vazios, senhora das saídas, poeta habituada ao fazer do amor que não é carne.

O livro dos sentimentos

R$9,90

Ter que falar sobre poesia é uma missão inglória, a graça da coisa é escrever poesia. Tentar explicar a poesia é dedicar-se ao fracasso. A poesia é como os sentimentos, falamos muito sobre eles mas nunca os esgotaremos em explicações.

Escrever um texto para convencer alguém a ler um livro de poesias é, na mesma medida, estranho e improfícuo. A poesia deve ser chamada pelo coração. Se você ouve o chamado de uma voz da sua infância ou de um amor suspenso ou de um dia inconcluso; sinta a poesia.

O náufrago no istmo de Wu

R$9,90

O náufrago no istmo de Wu espraia espasmos como as notas dissonantes de Charlie Parker. Pegar o pássaro em pleno voo, o onírico em plena deambulação e fazer com isso fábulas insólitas, riscadas, rabiscadas, significadas. Fábulas do reino animal, vegetal e mineral, objetivação de uma escotilha, de um tango, de uma orquestra. O planeta na hora da sesta, do ócio, do sonambulismo criativo que olha pela fresta do olho.

Karl tem razão: só as tempestades não envelhecem no istmo de Wu. Elas viram aluvião. Viram o menino Karl dando cambalhotas, o mundo de pernas ao avesso, e isso é arte, o que se mede sem começo.

Outras ruminações – 75 poetas e a poesia de Donizete Galvão

R$14,90

Esta é uma coletânea rara, feita em torno de temas essenciais à poesia: a amizade e a imortalidade. Assim, em vez de reunir poetas representativos de uma geração ou de dividi-los por regiões do país ou em movimentos artísticos, encontramos tão bem ordenada a produção de 75 poetas contemporâneos – a maioria brasileiros – apresentando o seu melhor e com uma solenidade inédita: trata-se de dialogar com os versos de 15 poemas de Donizete Galvão. O poeta que partiu na madrugada do dia 30 de janeiro de 2014, aos 58 anos, e que agora sobrevive tanto em seus versos, como renasce nos poemas desta antologia.

Em um dos seus “Ensaios” chamado “Da Amizade”, Montaigne, o famoso filósofo francês do século XVI, descreve o trabalho do muralista que pintava a grande parede de seu castelo. Dizia para que observassem que quase todo o trabalho eram arabescos que dirigiam a atenção para o tema central de sua pintura; e concluía que toda a sua obra, da vida inteira, eram os arabescos que escreveu e que levam a atenção do leitor para a ideia central: “O discurso da servidão voluntária”, ensaio de seu amigo Étienne de La Boétie.

A obra de Montaigne é caudalosa, monumental; enquanto o discurso de seu amigo possui apenas 37 páginas – e Étienne mais não fez porque morrera cedo.

Charles Sanders Peirce, matemático e semiótico norte-americano, do século XIX, defendia sermos imortais toda vez que alguém nos lesse e entendesse clara- mente nossas ideias, trazendo em pensamento a nossa visão do mundo.

Os 75 poetas desta edição também constroem arabescos voltados para os poemas de Donizete Galvão e se insurgem contra a sua morte: conversam com ele, o corporificam, o vivificam e o inesperado acontece: a poesia contemporânea derrota a morte de seu amigo poeta.

“Quem me lê me cria” – vaticina o verso de Donizete Galvão. E assim se fez nos diversos poemas, como diz Renan Nuernberger: “encontrá-lo outra/vez (Doni)/ nessa tarde/parada em/seu olhar (grave/ruminando/o mundo)”.

Esta é uma obra rara. Se não a mais completa, certamente a mais verdadeira reunião da poesia brasileira contemporânea.

LEANDRO ESTEVES e LEUSA ARAUJO