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Ronald Polito é poeta e tradutor. Coordena o selo Geleia Real, da e-galáxia, que já publicou livros dos poetas Tarso de Melo, Pádua Fernandes e Ricardo Rizzo, além de textos críticos de Ricardo Lísias e Victor da Rosa e de uma peça de Marcelo Mirisola. Nesta entrevista concedida ao jornalista Rodrigo Casarin, Polito analisa o campo da poesia hoje no Brasil.

Por que publicar poesia?
Por que a poesia é uma arte imprescindível. Porque as grandes editoras não dão a ela a atenção que seria necessária. Veja os catálogos das grandes editoras brasileiras: quase nenhuma aposta em publicar um poeta que já não esteja canonizado ou, por alguma razão fortuita, não tenha caído nas graças da mídia.

Como você vê a atual cena poética do Brasil?
Um enorme pluralismo, o que não quer dizer necessariamente qualidade. Há de tudo, já que são muitas gerações produzindo poesia. Há desde poetas que já estão há muito tempo na estrada, como Ferreira Gullar e Augusto de Campos, até gerações mais novas. De alguma forma, as novas gerações continuam dialogando com três momentos da poesia brasileira do século XX: com o modernismo (e esse é o diálogo ainda dominante), com a poesia concreta e com a poesia marginal. Essas “tradições” ainda não esgotaram seus desdobramentos possíveis, ainda que, em minha opinião, este processo esteja chegando ao fim. Nesse sentido, é notória a pouca presença de poéticas pós-modernas entre nós, talvez decorrência da fixação em torno da pauta da “realidade nacional” (sabe-se lá exatamente o que seja isso) como matéria para a criação poética.

E o mercado para a poesia, como anda?
O mercado para a poesia é praticamente inexistente e não vejo como poderia ser de outra forma, tendo em conta que a poesia que me interessa é, por definição, antimercadológica. E não acho que essa situação já tenha sido diferente, como certas leituras nostálgicas e anacrônicas tentam propor. É só observarmos que os maiores poetas brasileiros do século XX tiveram de, em grande parte, financiar a publicação de seus livros e depois distribuí-los. Volta e meia, algum título de poesia alcança um público um pouco maior, mas isso é exceção que confirma a regra: a poesia é um tipo de conhecimento especializado, que interessa a poucas pessoas, ainda mais num país de iletrados, que sequer leem prosa. Mas seguindo minha linha de raciocínio, a poesia como conhecimento especializado resultante de milênios de tradições, não vejo como isso diferiria de outros campos do saber. Você já viu algum livro de física (não sendo ele didático ou de vulgarização) virar best-seller? E alguém acha isso um absurdo? Creio que ninguém. Só meia dúzia de pessoas podem entender o atual discurso da física. O mesmo se dá com a música erudita, com as artes plásticas, com a poesia, se elas estão mesmo envolvidas com o desdobramento de suas potencialidades criativas. E não há nada de necessariamente mal nisso.

Quais os resultados mais significativos que vocês já obtiveram?
O resultado mais significativo é tentar criar um campo incomum de publicação para a poesia: o e-book, permitindo sua circulação por meios mais econômicos e também sua visibilidade, já que a divulgação dos e-books nas redes sociais alcança rapidamente um número enorme de pessoas.

Onde e como a poesia acontece hoje no Brasil?
Em diversos lugares, como deixam entrever as respostas anteriores. Mas esses lugares não são, prioritariamente, as editoras e livrarias do país. Há décadas os poetas no Brasil possuem seus próprios meios e suas próprias redes de contato e divulgação. Como são poucos os que se dedicam a essa atividade, escrevendo poesia ou dedicando-se a sua crítica, é razoavelmente simples localizá-los e interagir com eles. Em geral, portanto, os livros circulam porque os poetas trocam suas obras entre si e as enviam para os raros críticos de poesia; isso é atingir a quase totalidade do público real do país para essa forma de arte.

Saiba mais sobre Ronald Polito
Página Cinco, de Rodrigo Casarin
foto @urbanogramas

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