Escrever é um ato de resolução. Ninguém escreve à toa. Tudo o que pensamos vem em forma de sentimento e palavra e para entender essa ponte escrevemos. Marisa Rodrigues faz isso de modo sintomático e obsessivo – sim, há que existir obsessão na escrita – e tudo o que ela diz é maior que ela. Os poemas em prosa ou prosas fluidas nascem aos borbotões para tentar aplacar o que vem primeiro, o sentimento ou a palavra e com isso falar de sua história, revolta, nascimento, feminilidade, vontade, livramento. Marisa adverte quem lê porque poeta ou não a poesia a transforma. Ela fere de morte os que permeiam seus versos à procura de candura e encontram lacerações. A alma sangra e esse sangramento é palavra. Urbe et orbi devemos saber que a poesia tem uma função dupla: a de ser escrita e de escrever quem a escreve. E de escrever quem a lê. O poema gruda na retina e de lá não sai. Para sempre a emoção da leitura vai ficar no leitor que não se livrará do poema mesmo que não o lembre. Poesia é transcendental e persecutória. Vive enquanto nos lembrarmos dela. Os poemas de Marisa Rodrigues neste Água para borboletas catalisam os sentimentos e tornam-os claros. Legíveis. Vivos. Como a ranhura dos dentes e a cicatriz da infância. Perceptível e presente.
Por Thereza Christina Rocque da Motta em 6 de fevereiro de 2018.
Tantos anônimos e um ou outro com certidão
R$14,90“O primeiro livro de Guilherme Figueira é obra de artista.
Tem forma e é profundo.
São cinquenta histórias, contadas com baixíssimo orçamento de palavras, o que faz com que cada frase que o autor escreva mereça o máximo aproveitamento.
Apesar da deliberada economia de verbos, Tantos Anônimos e Um ou Outro com Certidão não é um livro de histórias curtas.
As histórias que se contam neste livro não é só o que o autor escolheu para narrar.
Muito mais extenso é o que escolheu para não narrar e, generosamente, deixa ao leitor o prazer da reverberação.
Com astúcia de poeta, Guilherme Figueira desnuda suas criaturas em vez de descrevê-las e, ao escolher revelar certos detalhes de suas biografias ou sublinhar determinados traços de seus temperamentos, consegue apresentar personagens complexos em poucos versos, como faz um bom letrista de música.”
João Falcão
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