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O que é preciso para escrever e publicar um bom livro de história, reportagem, negócios, biografia etc

Compartilho aqui um passo a passo básico (mas nada óbvio) para quem deseja escrever um livro de não ficção (biografia, história, reportagem, negócios, aprimoramento pessoal etc), mas não sabe como começar, ou não se sente seguro o bastante para seguir o caminho.

Caso queira escrever um romance, contos, poesia, fantasia, ou seja, um livro de ficção, veja as dicas da Noemi Jaffe.

Siga esses 5 passos para escrever um livro de não ficção consistente:

    1. Leia, pesquise e… leia ainda mais;
    2. Seja original e faça a diferença;
    3. Organize um sumário;
    4. Escreva de forma clara e concisa;
    5. Publique

Para tornar o caminho mais claro, pego como exemplo alguém que deseja escrever a biografia do líder dos Rolling Stones: Mick Jagger. O exemplo obviamente não é acidental, é minha banda do coração 😉

Apesar de hoje o meu nome estar mais associado à escrita ficcional com a publicação do romance O pai da menina morta, minha experiência com a escrita se dá de diversas formas, desde textos acadêmicos a ensaios de crítica cultural em diversos veículos. Além disso, trabalhar a edição de textos de terceiros trouxe uma boa experiência.

A seguir, um pouco sobre cada passo para você escrever um bom livro:

1. Leia, pesquise e… leia ainda mais

Pode soar clichê, mas no caso da não ficção, a dica número 1 para qualquer escritor – “Leia mais do que escreva” – se converte em lei. Mais ainda: lei gravada na pedra!

Antes de abrir um arquivo e escrever a primeira letra do seu livro sobre o líder dos Stones, você deve fazer um levantamento bibliográfico. O Google ajuda muito. Rapidamente você vai descobrir os livros mais importantes sobre o assunto. Além de livros, entrevistas ou artigos curtos em revistas são ótimos atalhos e fonte de pesquisa.

Um autor de ficção até pode não dominar completamente o gênero de livros em que escreve. Não deveria, mas pode… Por exemplo: escrevo contos, mas não conheço a obra do Borges. Pega mal, mas mesmo assim você pode ser um excelente contista.

No caso da não ficção isso é proibido. Como falar do Mick Jagger sem conhecer intensamente o que já foi escrito sobre ele? Você corre o risco de fornecer informação equivocada ou afirmar que algo é uma revelação, mas na verdade já estava numa biografia mais antiga. Isso acabaria com o seu livro e sua reputação de autor.

Lembrando que essa fase da pesquisa é uma delícia. Quero acreditar que você escolheu um tema que ama: seja a história da sua família, um conhecimento específico da sua área de trabalho ou a vida do Mick Jagger, lembre-se que você vai conviver por muito tempo e com muita intensidade com essas personagens e esse material. Então escolha bem.

Com o domínio da bibliografia sobre o tema, chega o momento da hipótese. Não tenha medo. É simples e vai garantir que o seu livro não seja apenas uma mera colagem de tudo o que você leu.

2. Seja original e faça a diferença

Acredito que a motivação de um bom escritor seja a de fazer a diferença, de somar ao que já foi publicado.

Um recurso muito útil usado por pesquisadores, seja da área de exatas, humanas ou biológicas, é começar com uma hipótese. Uma sentença afirmativa que conduzirá o texto e será testada ao longo do caminho se mostrando no final verdadeira ou falsa, ou parcialmente verdadeira ou falsa.

De fato, esse universo de laboratório de ciências parece distante do daquele de quem quer escrever um livro sobre o Mick Jagger, ou sobre bitcoins, ou sobre o futebol de várzea no interior de Minas Gerais. Mas não é! A hipótese, que pode ficar guardada na sua cabeça e ser bastante simples, é o que vai dar o toque de originalidade ao livro.

Por exemplo: “Os Rolling Stones não teriam chegado aonde chegaram se os Beatles não tivessem sido a banda número 1 da história”. A partir de uma afirmação como essa, você orienta o caminho para contar a sua versão da vida de um dos maiores rock star do mundo. Com essa hipótese, você acaba de incluir outros personagens importantes e de delimitar um período histórico preciso: o foco será os anos 60, e a vida de Lennon e MacCartney aparecerão bastante no livro. Você está mais na área da história da música do que nos escândalos sobre sexo e drogas. Revistas do período serão uma fonte preciosa.

Sem uma hipótese, você pode até escrever um bom livro, mas jamais um que possa fazer alguma diferença.

A seguir, mais um segredo antes de iniciar a escrita do livro propriamente dita.

3. Organize um sumário

Não pense ainda no título, provavelmente o mais adequado vai surgir no final. Nem tampouco escreva e reescreva a primeira frase do livro, que deve ser de impacto.

Vamos a algo aparentemente mais sem graça, porém essencial: o sumário. Isso mesmo, aquela página no início do livro com o nome dos capítulos e suas possíveis subdivisões. Não comece o livro sem o sumário feito. Esse mapa do livro vai definir a linha condutora do seu trabalho.

Por exemplo: você deve começar pela infância do Jagger ou pelo último show? Ou por algum caso de escândalo público? Ou com o decisivo encontro entre ele e Keith Richards num vagão de trem? Muito bem, você escolhe o encontro com o guitarrista e parceiro da vida toda, mas e depois: volta para a infância ou segue dali em diante e não fala do Jagger garoto porque não importa no seu recorte?

O sumário vai orientar o tom do livro também: mais ênfase em aspectos pessoais ou na evolução artística?

Imagino que deu para perceber a importância do sumário, certo? Eu diria que é uma espécie de dica de ouro para qualquer autor.

E, finalmente, a hora da escrita.

4. Escreva de forma clara e concisa

Ninguém espera que em um livro de não ficção o autor nos leve por desafios de linguagem ou labirintos formais complicadíssimos. Esses desafios têm o seu lugar e importância. E nunca, ao menos nas grandes obras da literatura, são gratuitos. Mas os roqueiros cinquentões que vão ler sua biografia sobre o Mick Jagger querem “apenas” uma história bem contada.

A escrita límpida e direta é também um estilo. E aqui o que está em jogo é a coerência: forma e conteúdo bem encaixados. Escreva de forma clara e concisa. Períodos curtos, ideias bem amarradas, sem rebuscar a linguagem. Inspire-se nos mestres do gênero biográfico. Pouco importa se escreveram sobre gângsters norte-americanos ou o rei do cangaço. Estude o estilo, o ritmo, o uso de expressões. Repare na clareza, na preocupação com as fontes, na adesão ou não ao vocabulário do biografado. Ou seja, leia estudando (repare que estamos de volta ao passo 1: leia, leia, leia).

Esqueça também a erudição ou o enciclopedismo. Não tente contar tudo que você sabe sobre o Jagger. Extraia o essencial e entregue a cereja do bolo ao leitor. E por fim, depois de ler, reler, cortar, colar, cortar de novo, achar que tá ruim, que tá maravilhoso… publique! Jamais deixe seu livro guardado no fundo da gaveta (virtual)!

5. Publique

Não, seu livro não estará pronto para ser publicado quando você terminar de escrever.

Todo original aceito por uma editora é minuciosamente trabalhado por profissionais até que se torne um livro.

Da mesma forma, acredito que o autor não deva abrir mão da qualidade na publicação independente. É certo que existem diversas maneiras de se fazer a autopublicação. Tem para todos os gostos e bolsos. A minha dica é: invista em bons profissionais para trabalharem a sua obra para que ela saia à altura do seu esforço.

Por fim, deixo um convite para você publicar com a e-galáxia e se juntar aos nossos autores.

Tiago Ferro


imagens @qeaql-studio;
Divulgação @ The Rolling Stones archive

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